A Rádio 98 Ipatinga entrevistou a mestra e doutora, Maria Neta, advogada especialista em justiça racial, formada pela UFOP há 14 anos, especialista em relações étnicos-raciais e conselheira da OAB subseção de Ipatinga
Segundo ela, falar do dia 20 de novembro, é falar do dia 13 de maio, uma alteração de paradigma, pois a data do 13 de maio, que foi muito falada nas escolas, retratou uma falsa abolição.
“Não foi nenhuma princesa que veio com uma caneta dourada e assinou uma libertação. É fruto de lutas, lutas coletivas de Quilombos extremamente organizados e bem geridos. O Quilombo é uma potência de gestão e falamos muito pouco sobre isso. Zumbi dos Palmares é um grande líder, Dandara é uma grande liderança” – Dra. Maria Neta.
Segundo a doutora, o estado brasileiro foi o que permaneceu com o tráfico transatlântico por mais de 300 anos, foi o país que mais manteve o fluxo da escravidão. São 137 anos de abolição e mais de 300 anos de escravização, falta muito tempo para inverter isso e pensar em uma sociedade com mais justiça racial.
Houve ganhos? Sim! Hoje há mais negros em figuras de representação positiva. Menos negros na teledramaturgia, nas novelas, sendo representados em lugares de dor, sofrimento, subalternizados, morando nas periferias e mais negros ocupando lugares de destaque, como empresários, como proprietários.
Outro ganho são nas políticas públicas, as cotas. O ingresso da população negra nas universidades aumentaram. “Ingressei na universidade pelas cotas raciais e se não for pelas cotas a população negra não entra. Mesmo entrando, eu sou a única. Os espaços são embranquecidos, refletem a colonização. Se não for via política de cotas, a população não entra ali, mesmo que qualificada”, afirmou a doutora.
E por fim, outro grande ganho é que hoje a população está um pouco mais segura de denunciar as questões do racismo. Dra. Neta tem observado em seu escritório esse aumento.
Ouça a entrevista com a Dra. Maria Neta:
O Dia Nacional da Consciência Negra só virou feriado nacional em 2023 e a data representa a luta por igualdade racial, o combate ao racismo e o reconhecimento da contribuição da população negra para o país. O dia homenageia Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, e foi escolhido por marcar o seu falecimento em 1695, simbolizando a resistência à escravidão.
Segundo o Censo 2022 a população negra no Brasil é formada por mais de 112 milhões de habitantes, ou seja, mais de 50% da população brasileira é negra.
Segundo os dados mais recentes (principalmente de 2022 e 2023), uma pessoa negra é morta a cada 12 minutos no Brasil em decorrência de homicídios. Isso equivale a uma média de aproximadamente 120 pessoas negras mortas por dia por causas violentas.
Dados:
– As pessoas negras são a maioria das vítimas fatais em intervenções policiais, chegando a quase 90% em alguns estados, e a média nacional indica que, a cada 24 horas, cerca de 7 pessoas negras são mortas pela polícia.
– Cerca de 76,5% das vítimas de homicídio no Brasil são pessoas negras (pretas ou pardas).
– O risco de uma pessoa negra ser vítima de homicídio é quase 3 vezes maior do que o de uma pessoa não negra.
A data não é apenas um momento de reflexão ou apenas um dia para se combater o racismo. É a continuidade da mudança da história. Durante a entrevista a especialista falou sobre o letramento racial, que é um processo de educação e conscientização para reconhecer, criticar e combater o racismo estrutural e as práticas racistas no cotidiano. O que envolve a desconstrução de pensamentos e comportamentos naturalizados; a compreensão de como as relações raciais moldam o mundo e a capacitação para desmantelar a desigualdade racial, por meio do estudo e da reflexão. Isso já deveria ter começado nas escolas, para que as crianças aprendam a realidade desses dados atuais e avassaladores e entendam que a igualdade racial está distante ainda.
Foto: Leticia Barros/ Rádio 98 Ipatinga





